A "quarta onda"
Artigo de André Soares - 26/05/2010.
Alvin Toffler é um renomado futurista norte-americano que reviu a história sob nova ótica na sua memorável obra intitulada “A terceira onda” (The Third Wave). Nela, o autor demonstra que o desenvolvimento da humanidade foi fortemente determinado por três fatos que considerou os mais significativos da história e que denominou de “ondas”. A primeira delas foi a revolução agrícola há cerca de dez mil anos, a segunda foi a revolução industrial há 300 anos, e “a terceira onda” é a atual era da informação e do conhecimento em que vivemos. Hoje, no auge da eclosão da “terceira onda”, já se anuncia o advento da “quarta onda”. Todavia, contrariamente às “ondas” anteriores que ensejaram o crescimento e o desenvolvimento das civilizações, “a quarta onda” constitui um verdadeiro “tsunami” de destruição. Trata-se da “onda do espírito”.
Se ao longo da história a humanidade experimentou um desenvolvimento econômico exponencial extraordinário, conforme muito bem diagnosticou Alvin Toffler; atualmente as pessoas nunca estiveram tão vulneráveis e perdidas espiritualmente. Estresse, ansiedade, fobias, bipolaridade, depressão, assédio moral, “bullying”, síndrome do pânico, dentre outros, fazem parte do inevitável pacote de problemas psicológicos da vida moderna; e que levaram a diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Gro Harlem Brundtland, no ano de 2000, a qualificar a situação das enfermidades e transtornos mentais como "a crise do século XXI". Em termos práticos, significa dizer que se hoje ainda há quem não tenha sido acometido por pelo menos alguma dessas doenças, no futuro próximo certamente será.
Prova disso são as demandas sociais crescentes pelos conteúdos de autoajuda, os recordes de lucratividade das editoras e livrarias na vendagem desses livros, a constatação tácita de que os consultórios dos profissionais da psique nunca estiveram tão cheios, o enfraquecimento das religiões mais tradicionais pela perda de fiéis, o surgimento de novas crenças e seitas, o recrudescimento do fundamentalismo e do fanatismo religioso, e as estatísticas alarmantes dos gastos previdenciários com o tratamento de doenças mentais em todo o mundo.
A destruição da “onda do espírito” já é uma realidade na vida das pessoas, das famílias, das organizações e dos estados. Seus efeitos comprometem a saúde dos indivíduos e seus custos crescentes inviabilizarão gradativamente a eficiência e o próprio funcionamento organizacional. Assim, avizinha-se o inexorável cenário de crises de natureza psicossocial, com consequentes prejuízos financeiros, econômicos e políticos para as sociedades, que já se fazem sentir. Entretanto, como sempre acontece ante a uma tragédia anunciada como esta, a incredulidade, a indolência, e a irresponsabilidade generalizadas, conduzindo à inação, contribuem para o agravamento de suas consequências.
“O que fazer?”
Pelas gerações atuais, muito pouco, pois força espiritual não se compra nas livrarias, não se adquire nas igrejas e templos, e não se recupera nos consultórios. Nesse contexto, as gerações futuras já nascerão comprometidas porquanto não escaparão da má influência e do triste legado que herdarão.
A boa notícia é que, como historicamente acontece, as grandes tragédias suscitam os melhores auspícios aos que, antevendo o futuro, são os mais inteligentes, os mais fortes, e os espiritualmente mais preparados.