Dissecando o Movimento de Nova Era Parte 1
Autor: Carl Teichrib
Forcing Change, Volume 2, Edição 10.
"Estamos aprendendo a abordar os problemas de uma forma diferente, sabendo que a maior parte da crise mundial surgiu com o antigo paradigma — as formas, estruturas e crenças de uma compreensão obsoleta da realidade. Agora, podemos buscar respostas fora das velhas estruturas, fazer novos questionamentos, sintetizar e imaginar." [Marilyn Ferguson, A Conspiração Aquariana, pág. 407 no original; tradução nossa].
A Conspiração Aquariana, publicado em 1980, foi um marco social. Utilizando como base mais de uma década de descontentamento espiritual e social em todo o mundo ocidental, a autora Marilyn Ferguson postulou que um movimento crescente de mudança da mente estava se preparando para transformar nossa cultura coletiva. "A sociedade ocidental está em um ponto crucial", ela escreveu com referência a esse paradigma da "Cultura Emergente". [1].
Essa metatransformação já recebeu diversos títulos, dependendo das personalidades do dia e da inclinação dada: Terceira Via, Nova Ordem Social, Aventureirismo Espiritual, Consciência Planetária, Mudança Global de Paradigma, Sinergia Mundial, Paradigma Emergente, Transformação Global e Evolução da Consciência. Ferguson a chamou de "Conspiração Aquariana", em reconhecimento a uma rede vasta e sem liderança de indivíduos, iniciativas de raiz popular e organizações formais que ligam esse movimento nos níveis nacional e internacional.
"Mais ampla do que reforma, mais profunda do que revolução, essa conspiração benigna para uma nova agenda humana deu partida ao realinhamento cultural mais radical da história. O grande tremor, a mudança irrevogável que está tomando conta de nós não é um novo sistema político, religioso ou filosófico. É uma nova mente — a ascensão de uma cosmovisão surpreendente..." [2].
Por volta de meados dos anos 1980s, essa mudança mental teve um nome comum: Movimento de Nova Era. Entretanto, esse processo de transformação não estava baseado em nada "novo". Em vez de ser uma ideia singularmente nova, esse movimento representava apenas a introdução, aceitação e propagação do misticismo oriental no Ocidente e a cosmovisão que emanava dessa forma de espiritualidade.
Roger Oakland, autor de Faith Undone (Fé Desfeita), oferece o seguinte comentário:
"No início dos anos 1980s, tomei conhecimento de uma grande mudança de pensamento que estava varrendo o mundo ocidental. Práticas pagãs do passado, anteriormente relegadas a um mundo de trevas, estavam agora sendo adotadas como meios e modos de dar início a uma era de iluminação. Em vez de física, era a metafísica. Em vez de acreditar em Deus, as pessoas estavam seguindo homens que diziam que eram deuses. Em vez de adorarem ao único Deus verdadeiro que criou todas as coisas, elas estavam adorando tudo aquilo que o Criador tinha criado. Tudo era deus e todo homem podia se tornar um deus. Todo método e terapia imaginável importados do hinduísmo, do budismo e de todas as formas de misticismo oriental subitamente entraram em voga. Fomos informados que a era da iluminação tinha chegado." [3]
No espaço de algumas poucas décadas, essa "cosmovisão surpreendente" fez profundos avanços. Da Inglaterra até a Austrália, da Nova Zelândia aos Estados Unidos, o Movimento de Nova Era apresentava uma alternativa ao cristianismo, aquela "compreensão obsoleta da realidade". À medida que a sociedade se livrava daquela "velha religião" com seus dogmas fundamentais — a pecaminosidade do homem, a santidade de Deus e a obra redentora de Jesus Cristo — as pessoas famintas por "espiritualidade" e sentido para suas vidas aderiam a uma infinidade de filosofias e experiências místicas substitutas.
Agora, 28 anos após a publicação de A Conspiração Aquariana, nossa paisagem compartilhada está tão profundamente entrelaçada com os conceitos de Nova Era que é impossível manter o controle das transformações que estão ocorrendo. Além do mais, a diversidade do Movimento de Nova Era propicia o anonimato cultural — ele sutilmente se inseriu nos campos da educação, da administração empresarial, da assistência à saúde e até nas igrejas. Hoje, a Nova Era se implantou de forma tão perfeita no cenário ocidental que frequentemente nos vemos negligenciando suas influências. Em outras palavras, ela se tornou uma parte tão aceita do nosso ambiente social que nos tornamos em grande parte cegos para ela.
Essa cegueira é algo que testemunhamos nos últimos anos ao conversar com vários pastores e outros cristãos professos. "O Movimento de Nova Era foi ineficaz... ele se dissipou anos atrás... aquilo foi um fenômeno da década de 1980... foi uma moda... ele não é revelante hoje..." Enquanto isso, as igrejas estão oferecendo classes de Yôga, construindo labirintos e adotando outros instrumentos místicos para a "união com o divino" e adotando o pensamento da "progressão humana" e a Psicologia "transformacional". [4]. Aquilo que teria sido óbvio para os cristãos como "enganação espiritual" trinta anos atrás é agora, em muitos círculos cristãos, visto como parte da nossa "formação espiritual".
Percorremos um caminho muito longo.
Uma pequena lista dos aspectos ou manifestações de "Nova Era', é suficiente para demonstrar a diversidade espiritual do movimento. Ao analisar a seguinte lista incompleta, é importante observar o fato que o Movimento de Nova Era é, em muitos aspectos, inseparável daquilo que tradicionalmente é considerado como ocultismo.
Teosofia e muitas outras versões "ocidentalizadas" das religiões e filosofias esotéricas do Oriente.
Cartas de Tarô, astrologia e outras formas de adivinhação.
Experiências místicas, incluindo capacitação ritualística (as caminhadas no labirinto se encaixam neste pacote).
Revelações canalizadas e comunicações recebidas dos seres "ascensionados". Mensagens de extraterrestres e seitas que cultuam óvnis poderiam ser consideradas como componentes de subcultura do Movimento de Nova Era.
Psicologia transpessoal e pensamento do potencial/progresso humano — "evolução da consciência".
Adoração baseada na Terra e outras expressões espirituais pagãs; o reaparecimento das antigas religiões da natureza.
Simbolismo esotérico, "geometria sagrada" e um interesse renovado pelo uso de talismãs.
Reavivamentos da adoração à deusa — o reaparecimento do "sagrado feminino".
Energia dos cristais e outros instrumentos para se conectar com a "força da vida" universal.
Várias práticas de medicina alternativa, como a Cura Prânica e a terapia do toque sem contato.
Abordagens universalistas e pluralistas à religião — todas as religiões são válidas e todas as expressões espirituais são aceitas como encontros legítimos com "o divino".
Para qualquer pessoa que tente compreender o total significado e o contexto de apenas uma dessas muitas manifestações, a tarefa pode ser dantesca. Além disso, para a pessoa mediana que "apenas queira saber o que está se passando", o Movimento de Nova Era pode ser um pântano de terminologia obscura, falácias lógicas, representações errôneas, contradições e até pura bizarrice. Entretanto, existem temas comuns que ocorrem em todas suas variações e este artigo fará um exame rápido em duas questões comuns: Deus e governo.
Sobre Deus
O melhor modo de entender o que o Movimento de Nova Era ensina com relação a "Deus" é ouvir aquilo que seus líderes e autores proclamam. Considere as seguintes afirmações:
"Nada pode me tocar, exceto a ação direta de Deus e Deus é meu Eu Onipotente. Posso fazer todas as coisas por meio da Força do Cristo Eu Sou. Eu Sou a FORÇA! — John Randolph Price, The Planetary Commission (A Comissão Planetária; The Quartus Foundation, 1984), pág. 133.
"... se enviei Jesus, então enviaria Maomé, Buda, Krishna, e todos os meus grandes revolucionários. Então o que aconteceria? É Jesus realmente meu filho, mais do que os outros — ou na verdade, mais do que qualquer homem ou mulher é meu filho e minha filha? Todos vocês são meus filhos. E 'Cristo' significa Consciência Universal. Todos vocês são o Cristo por quem buscam." — conforme canalizado por Allen Michael, GOD — Unlimited Ultimate Mind — Speaks (Starmast Publications, 1982), pág. 15.
"Tome agora seu lugar ao meu lado e vamos juntos provar que o Homem é Deus, que não há nada que não seja Deus." — canalizado por Benjamin Creme, Messages from Maitreya the Christ (Mensagens de Maitréia, o Cristo; Tara Press, 1980), pág. 59.
"Em nome da amada, poderosa e vitoriosa Presença de Deus, Eu SOU em mim, Santo Cristo de toda a humanidade, todos os grandes poderes e legiões da luz..." — Elizabeth Clare Prophet, The Great White Brotherhood (A Grande Fraternidade Branca; Summit University Press, 1987), pág. 205.
"Ser ou não ser um Cristo; esta é a decisão que cada alma neste planeta precisa tomar." — John Davis and Naomi Rice, Messiah and the Second Coming (O Messias e a Segunda Vinda; Coptic Press, 1982), pág. 36.
"... todos nós somos amor e espírito, e esse amor e espírito são Deus, e que todos nós, portanto, somos Deus e Deus é tudo..." — Desmond E. Berghofer, The Visioneers: A Courage Story About Belief in the Future (Os Visionários: Uma História de Coragem Sobre Crença no Futuro; Creative Learning International Press, 1992), pág. 202.
"Todos estamos ligados juntos. Somos o grande 'Eu Sou', como suas escrituras chamam Deus... Somos Deus. Você é uma parte de Deus..." — canalizada por Lee Carroll, Kryon: The End Times — Channelled Teachings Given in Love (Kryon: O Fim dos Tempos — Ensinos Canalizados Dados em Amor; The Kryon Writings, 1992), pág. 10.
David Spangler, uma personalidade que lidera o Movimento de Nova Era há muitos anos, expressou o mesmo tipo de pensamento em termos que poderiam — dentro de certos círculos — ser considerados "como cristãos".
"Este é todo o significado da Nova Era: fazer de Deus nosso Amado, responder ao seu convite de casamento e de parceria criativa com ele, sermos um com ele, sermos perfeitos como nosso 'Pai no céu'." [Spangler, Reflections on the Christ (Reflexões Sobre o Cristo), 1978, pág. 30].
Considere também as palavras de Henry C. Clausen, que foi o Soberano Grande Comandante do Rito Escocês da Maçonaria. Em seu livro Emergence of the Mystical, Clausen se certifica que o leitor compreende o vínculo entre a Loja e a divindade do homem:
"Nosso Rito Escocês inspira o espírito que liberta o homem — ele fala para nossos iniciados com a pena dourada da poesia e com o fogo sagrado do drama — fala ao mundo com a alma inspirada da humanidade — revela a Ordem Divina dentro do próprio homem..." (Emergence of the Mystical, 1980, pág. 8).
Outras autoridades maçônicas, como Manly P. Hall, um dos filósofos mais respeitados da Arte, advogou abertamente essa combinação Deus-Homem:
"O homem é um deus que está no processo de formação e, como nos mitos místicos do Egito, na roda do oleiro ele está sendo moldado. Quando sua luz resplandece para elevar e preservar todas as coisas, ele recebe a coroa tríplice da divindade e ingressa naquela companhia de Mestres Maçons que, em seus mantos de Azul e Dourado, buscam dissipar as trevas da noite com a luz tríplice da Loja Maçônica." (Manly P. Hall, The Lost Keys of Freemasonry (As Chaves Perdidas da Maçonaria), pág. 92.)
A Bíblia também contém uma passagem que mostra este mesmo conceito espiritual — isto é, o homem se tornando uma divindade. Essa passagem se encontra em Gênesis 3 e fala sobre a queda da humanidade.
Sucintamente, o contexto é o seguinte: Satanás, disfarçado como uma serpente, convence os habitantes do Jardim do Éden a violarem intencionalmente a lei de Deus — um decreto estabelecido que proíbe comer de certo fruto. Abordando Eva, a Serpente lança dúvidas sobre a lei protetora de Deus e introduz um novo modo de ver o fruto:
"Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela." [Gênesis 3:2-5].
Eva tomou e comeu o fruto, e o mesmo fez Adão.
A morte ficou oculta, como a Serpente prometeu? Adão e Eva alcançaram a divindade por meio do conhecimento do bem e do mal? A resposta a ambas as perguntas é não. Em vez disso, a morte se tornou nossa marca registrada, pois o homem tolamente se deixou iludir — a criação nunca pode ser igual ao Criador.
Isto nos traz de volta ao Movimento de Nova Era. Essencialmente, a mentira da Serpente registrada em Gênesis 3 é a pedra fundamental no Movimento de Nova Era: "sereis como Deus". Experimentei esse sistema de crenças em primeira mão no fim dos anos 1990S, ao participar como pesquisador de um evento de Nova Era. Durante uma sessão, foi formado um círculo em que os participantes de mãos dadas entraram em um período de meditação para coletivamente canalizarem as energias cósmicas; depois, encerraram a cerimônia inclinando-se uns diante dos outros em reconhecimento às suas divindades. Durante todo aquele dia, diversas outras referências foram feitas às suas divindades e posições crísticas, porém todos tiveram de pagar o ingresso para participar do evento. Muitos dos participantes eram idosos e tinham problemas de saúde. Algumas das divindades participantes também tinham problemas de visão, o que era evidente pelo fato de usarem óculos. Além disso, todos os deuses tinham chegado de carro. Nenhum deles tinha voado por sua própria conta e se materializado ali, ou descido dos céus. Todos pagavam contas no fim do mês. Todos eram meros seres humanos.
Somos Deus? Se pensamos assim, estamos simplesmente enganando a nós mesmos.
Sobre o Governo
A crença da Nova Era no egoteísmo tem limites óbvios, tanto na lógica quanto em termos da natureza moral do homem. Entretanto, os proponentes dessa transformação social e espiritual buscam outro método de progresso evolucionário — a capacidade de gerenciar a existência da humanidade por meio do instrumento do governo mundial.
Considere as seguintes declarações:
"O controle populacional, limitar um ou dois filhos por família... é necessário para alcançar um verdadeiro internacionalismo, que leve em conta os recursos do mundo coletivamente... Compreendo perfeitamente que o Governo Mundial é um assunto controverso e que parece estar em oposição ao espírito tradicional do nacionalismo. Entretanto, o mundo é pequeno demais agora para que continuemos a pensar nele no futuro como um tabuleiro do jogo de damas de Estados soberanos e ambições individuais." — Ralph M. Lewis (antigo Imperador da Antiga e Mística Ordem Rosa-Cruz), "The Imperator Interviewed", Rosicrucian Digest, abril de 1984.
"O compartilhamento e cooperação de toda a humanidade, a redistribuição da produção mundial, resultarão no governo mundial... Na chefia dos vários governos do mundo e das grandes agências internacionais, como as agências das Nações Unidas, haverá um Mestre ou, pelo menos, um iniciado do terceiro grau." — Benjamin Creme (Creme afirma ser o veículo por meio do qual um Mestre de espírito evoluído fala), The Reappearance of the Christ and the Masters of Wisdom (O Reaparecimento do Cristo e os Mestres da Sabedoria, Tara Press, 1980), pág. 169.
"Pessoas de compreensão e de capacidade especial se levantam para estabelecer nosso Novo Governo Mundial, que já está potencialmente iniciado nas Nações Unidas; para estabelecer nossos mercados livres, que já foram potencialmente iniciados no Mercado Comum e para estabelecer nossa Comissão de Planejamento Mundial, que já foi iniciada por meio dos ambientalistas e dos planejadores urbanos progressistas." — Allen Michael (que canalizou as mensagens de um ser espiritual que afirmava ser a Mente Maior), God — Ultimate Unlimited Mind — Speaks (Deus — A Mente Maior Não Limitada — Fala; Starmast Publications, 1982), pág. 286.
"A revolução começou. Ela teve início mais de cem anos atrás, mas agora o ritmo está aumentando. Em todo o mundo, homens e mulheres estão aderindo à insurreição e vindo à frente para serem contados como parte de uma nova raça que algum dia governará o universo. — John Randolph Price (cofundador da Quartus Foundation), The Super Beings (Os Super-Seres; The Quartus Foundation for Spiritual Research, 1981), pág. 1.
"O que a ordem mundial significa é que certas funções serão transferidas dos níveis nacionais para o nível planetário. Por exemplo, a manutenção da paz, a proteção ecológica transnacional, regulamentações para o comércio internacional e para um sistema monetário integrado, regulamentação do uso dos mares e alguma forma de tributação global." — Gerald and Patricia Mische (fundadores da Global Education Associates, uma organização de transformação com fortes inclinações de Nova Era), Toward a Human World Order (Rumo a uma Ordem Humana Mundial), Paulist Press, 1977), pág. 64.
"... a América precisa conscientemente se ver como um império de transição, um império cujo destino neste momento é atuar como parteiro para um sistema global governado democraticamente. Seu grande desafio não é dominar, mas catalisar. Ela precisa usar sua grande força e sua herança democrática para estabelecer instituições integradas e mecanismos para gerenciar o sistema global emergente para que seu próprio poder seja colocado em submissão ao edifício que ela ajuda a construir. O presidente Wilson estabeleceu a Liga das Nações a partir das cinzas da Primeira Guerra Mundial. Os presidentes Roosevelt e Truman estabeleceram uma nova ordem internacional após a Segunda Guerra Mundial. A América precisa agora construir a terceira iteração da governança global." — Jim Garrison (Presidente do Fórum Estado do Mundo; Presidente da Universidade da Sabedoria — uma escola que enfoca o estudo de assuntos esotéricos e de Nova Era), America As Empire: Global Leader or Rogue Power? (A América como Império: Líder Global ou Poder Delinquente?, Berrett-Koehler Publishers, 2004), pág. 9.
"Uma nova consciência está... emergindo a partir de uma crescente conscientização no Ocidente da sabedoria da cosmovisão oriental. O budismo, o hinduísmo, o taoísmo e o xintoísmo, embora diferentes em muitos aspectos, retratam o mundo como um ecossistema multidimensional e organicamente interrelacionado do qual o homem é uma das muitas partes interdependentes. Talvez possamos aprender isto com eles para vermos o mundo inteiro, como ele realmente é, e juntos — Ocidente e Oriente — começarmos a construir os alicerces de uma nova ordem internacional. O item mais urgente na agenda planetária é definir os limites da liberdade e da ordem em questões supranacionais e globais. O mundo precisa de uma Constituição que combine as realizações de ambos os hemisférios; isto é, as limitações constitucionais e uma Carta de Direitos do Ocidente e uma cosmovisão ampla e abrangente do Oriente." — Lucile W. Green (uma federalista mundial com fortes inclinações de Nova Era), Journey to a Governed World: Thru 50 Years in the Peace Movement (Jornada para um Mundo Governado: 50 Anos no Movimento da Paz; The Uniquest Foundation, 1991), págs. 34-35.
Lucile Green, que fez a última declaração acima, acreditava firmemente que a ONU seria a organização melhor qualificada para atuar como gerente global: "... as Nações Unidas precisam ser transformadas em um governo mundial eficaz." [5]. Muitos outros no Movimento de Nova Era veem a ONU como a "melhor e única esperança". Mas, simplesmente querer um governo mundial não significa muito, a não ser que a organização ou o indivíduo em questão tenha alguma força nas elites sociais e políticas.
É este o caso com o Movimento de Nova Era? Embora a maioria seja formada simplesmente por cidadãos comuns, existe uma facção muito influente e com voz que opera nos escalões sociais, políticos e empresariais mais altos e também nos círculos acadêmicos. Além disso, não é difícil encontrar aderentes da Nova Era dentro da comunidade das Nações Unidas. Robert Muller é um caso em vista.
Em 1947, Muller venceu um concurso de ensaios com uma monografia que escreveu sobre o governo mundial. O prêmio foi um estágio na ONU. Mais tarde, em 1948, ele foi contratado pela organização. Desde 1948 até sua aposentadoria em 1986, ele ocupou os seguintes postos:
Assessor político para as tropas da ONU em Chipre.
Diretor-Adjunto da Divisão de Recursos Naturais da ONU.
Diretor de Orçamento da ONU.
Diretor da Secretaria-Geral.
Secretário do Conselho Econômico e Social.
Assistente do Secretário-Geral.
Ganhador do Prêmio da Paz da UNESCO (e outros prêmios).
Chanceler Emérito da Universidade da Paz, das Nações Unidas.
Coordenou diversos eventos da ONU, Anos Internacionais e programas mundiais.
Conhecido como "Profeta da Esperança" e "Filósofo" da ONU, Muller dedicou sua vida à cidadania mundial e à espiritualidade global — com uma estrutura de crenças construída em torno da combinação feita pela Teosofia do misticismo oriental com a filosofia ocultista ocidental. Um respeitado conferencista de Nova Era e autor de diversos livros, a influência de Muller é sentida em toda a ONU e na comunidade internacional mais ampla. (Nota: Muller ainda está vivo, porém sua idade avançada o forçou a reduzir consideravelmente suas atividades). Em outras palavras, ele não é um seguidor inconsequente.
Uma prova dos conceitos de "governo mundial" de Muller pode ser encontrada em sua declaração aos educadores públicos e às crianças em idade escolar no Congresso da Mocidade Cidadania Global 2000, que foi realizado durante a primavera de 1997, em Vancouver, no Canadá:
"Tenho seis modos fundamentais de chegar a um Mundo Unido... Vou trabalhar em cada um deles... Estou pedindo agora que as Nações Unidas sejam tremendamente fortalecidas, ou que sejam criados os Estados Unidos do Mundo. Ou, vamos pegar a União Europeia agora, como um modelo que é melhor que as Nações Unidas, para um Mundo Unido. Ou, vamos pegar todos os Federalistas Mundiais juntos para criar uma Federação Mundial. Ou, vamos criar unidades regionais continentais... A União Europeia, a União Americana, que também promovi — e foi assim que vocês tiveram o acordo de comércio entre os EUA e o Canadá. E então tomemos os cinco continentes, se eles estiverem unidos, criarão uma União Mundial. Este é outro... O último e mais importante é que organizemos este planeta de acordo com a biologia. Todas as bactérias, todas as células no seu corpo, estão interconectadas... Este é um conceito completamente novo de como o planeta deve ser organizado. Devemos fazer isto por região, em vez de segmentar de um lado a outro. Eu gostaria de ter uma Comunidade do Pacífico, uma Comunidade do Atlântico... Gostaria de ter a Comunidade do Pacífico com todos os países em torno do Oceano Pacífico. Uma Comunidade do Atlântico com os países em torno do Oceano Atlântico. Eu gostaria de ver uma Comunidade do Ártico, uma Comunidade da Antártida, os países do deserto... Os grandes rios da Amazônia seriam praticamente uma região em que os povos deveriam estar unidos com a natureza. Assim, vocês têm de trabalhar nisto tudo. Vocês têm um futuro fantástico." — Robert Muller, falando no Congresso da Mocidade Cidadania Global 2000, em 5 de abril de 1997. [O autor possui as fitas cassetes com o áudio deste evento.]
Em seu livro New Genesis: Shaping a Global Spirituality (Novo Gênesis: Moldando uma Espiritualidade Global), Muller advoga a unificação global centrada na espiritualidade de Nova Era. Ele diz que "um dia, nosso planeta será uma democracia espiritual mundial" (pág. 10). Ele explica:
"Pouco a pouco, um livro planetário de orações está sendo composto por uma humanidade cada vez mais unida que busca sua unicidade... Novamente, mas desta vez em uma escala universal, a humanidade está buscando não menos que sua reunião com o 'divino', sua transcendência em formas mais elevadas de vida. Os hindus chamam nossa Terra de Brahma, ou Deus, pois corretamente não veem diferença entre nossa Terra e o divino. Essa antiga e simples verdade está lentamente alvorecendo sobre a humanidade. Seu florescimento pleno será a grande e nova história real da humanidade, pois estamos prestes a entrar na nossa era cósmica e nos tornar aquilo que sempre fomos destinados a ser: o planeta de Deus." (pág. 49).
O Movimento de Nova Era tem, no mínimo, sido um fator de influência no que se refere à modelagem do que os futuros sistemas de governança devem ser. Ademais, as impressões digitais da Nova Era podem ser encontradas em muitas outras estruturas de governo atuais. Elementos significativos de Nova era podem ser rastreados em toda a União Europeia e em muitos departamentos estaduais e nacionais — especialmente nas agências educacionais, ambientais e culturais.
Em certo sentido, esta noção de governo mundial atua da mesma forma que a ideia da autodivindade. Basicamente, se o homem é Deus, conforme o ensino da Nova Era, então "Governo Mundial" representa a expressão organizada máxima de "Deus na Terra". Afinal, um sistema global centralizado seria, por sua própria natureza, o gerente sobre toda a atividade humana no planeta. Neste sentido, "o Governo É Igual a Deus". As implicações são extraordinárias. Quem se atreveria a contradizer as aspirações centralizadas desse governo-deidade?
Barbara Marx Hubbard, uma líder da Nova Era, nos diz que essa transformação planetária afetará a todos. Se você estiver em oposição a esse programa evolucionário — essa transição global que objetiva capacitar toda a humanidade — então você será separado.
"A humanidade não conseguirá fazer a transição da vida centrada unicamente na Terra para a vida universal até que a palha tenha sido separada do trigo. O grande ceifeiro precisa ceifar para que possamos dar o salto quântico para a próxima fase da evolução. A paz terreal somente conseguirá prevalecer quando os membros centrados em si mesmos do corpo planetário mudarem ou morrerem. Esta é a escolha... Este ato é tão horrível quanto matar uma célula cancerosa. Ele precisa ser feito para o bem do futuro do todo." [6].
Conhecimento Implica em Responsabilidades
Compreender estes dois componentes comuns encontrados no Movimento de Nova Era — as visões sobre Deus e Governo — nos ajudam a compreender melhor a mudança cultural que está ocorrendo no mundo ocidental. Ao pensar nestas questões, é importante observar que esta é uma "batalha de base espiritual pela mente e pela alma".
Tudo isto assume um tom especialmente sério quando se percebe que essas filosofias inundaram a sala de aula, bem como a programação na televisão e a literatura voltadas para as crianças. Sem qualquer surpresa, a educação é considerada a porta para a transformação global e social, tanto que Robert Muller desenvolveu um currículo internacional baseado em princípios de Nova Era. Além disso, a cofundadora da Sociedade do Mundo Futuro, Barbara Marx Hubbard, é igualmente inflexível com relação à educação como principal chave para a transformação da Nova Era — "nosso plano de ação motivado pelo espírito para o século 21" [7].
"A educação para a evolução consciente é o contexto em que todas as disciplinas e campos trabalham juntos para compreender e guiar a evolução da humanidade. Ela é a metadisciplina que precisamos para fornecer o conhecimento, a motivação e as oportunidades sobre as quais a liderança no século 21 se formará." [8].
"Os próximos cinquenta anos devem ser dedicados a colocarem juntos os recursos intelectuais, sociais e espirituais da nossa brilhante espécie para lançar os fundamentos para o próximo estágio da evolução humana..."
"... para abrigar a nova metadisciplina, novas escolas para a evolução consciente são necessárias, não somente uma escola de pensamento, mas também instalações escolares, sejam em universidades reconhecidas ou não, onde as pessoas se reúnam para ensinar e para aprender como participar na evolução consciente — espiritual, social e cientificamente... Elas seriam lugares para misturar o fermento intelectual, social e espiritual necessário para este salto quântico." [9].
Sabendo que a educação e as crianças, em particular, são alvos para a programação transformadora da Nova Era, quais são nossas responsabilidades?
1. Se você é pai, é sua responsabilidade reconhecer estas influências e lidar com elas de um modo que forneça sabedoria aos seus filhos. Não diga simplesmente que algo é "mau". Em vez disso, explique a enganação e forneça para elas um alicerce construído sobre a verdade. Se seus filhos estão no sistema público de ensino, analise regularmente o currículo e os materiais didáticos. Se houver um problema, converse com os professores e/ou administradores, explicando sua posição com cuidado, com fatos e de forma lógica. Controle suas próprias emoções — a cabeça calma e tranquila trabalha melhor do que com explosões de raiva. Nota: A educação no próprio lar fornece uma excelente alternativa, porém nem todos estão em condições de oferecê-la aos seus filhos.
2. Se você for um administrador escolar e/ou um professor, tem uma responsabilidade; você deve ser o filtro para a classe. Esta não é uma tarefa fácil, especialmente se seu ambiente profissional não vê com bons olhos seu interesse em filtrar os ensinos de Nova Era.
É importante se lembrar que a Nova Era está infiltrada em uma ampla variedade de campos e atividades. Como um exemplo: minha família gosta de colecionar pedras. Não se trata de encontrar belas pedras no caminho de casa, mas de coletar amostras de minerais, blocos de cristais bem-definidos e outras peças diferentes. Fazemos muito disso com trabalho árduo — cavando, quebrando com martelos e talhadeiras e explorando terreno íngreme. Sempre que possível, procuramos visitar as lojas de pedras preciosas. Inevitavelmente, quando visitamos algumas dessas lojas, encontramos um aspecto do Movimento de Nova Era: as supostas propriedades espirituais das rochas e dos cristais — pedras terapêuticas e energia dos cristais.
Isto não influencia meus filhos. Eles compreendem a diferença entre a verdade e o erro espiritual, tanto a partir da perspectiva bíblica quanto da lógica; eles sabem que uma rocha é apenas uma rocha, nada mais e nada menos. Eles também sabem que há um trabalho árduo envolvido em encontrar e limpar os belos cristais que estão nas prateleiras das lojas; não há nada "mágico" nisto. Todavia, existem ensinos de Nova Era que tentam desafiar a fé e as convicções de minha família.
A abrangência da Nova Era é vasta. A autora Marilyn Ferguson, escrevendo sobre aqueles que estão envolvidos em fazer avançar esse movimento, diz o seguinte:
"Eles estão nas grandes empresas, nas universidades e nos hospitais, no corpo docente das escolas públicas, nas fábricas e nos consultórios médicos, nas agências dos governos estaduais e federal, nas câmaras de vereadores e na equipe de funcionários da Casa Branca, nas legislaturas estaduais, nas organizações de voluntários, em virtualmente todas as arenas de criação de políticas no país." [10; tradução nossa].
Sabendo isto, como devem os cristãos responder para aqueles que estão no Movimento de Nova Era?
Os indivíduos que aderem às crenças da Nova Era não são seus adversários. Emboras as filosofias sejam diametralmente opostas ao cristianismo bíblico, os aderentes são seus vizinhos, colegas de trabalho e membros da sua família. Trate-os com respeito e com amor, e esteja disposto a discutir as questões espirituais com eles com cuidado e com verdade. Seja honesto quando você não conhecer a resposta para uma de suas questões. Quando tiver a oportunidade de se sentar com eles e comparar as crenças religiosas — e isto acontece! — seja claro com relação à condição bíblica do homem, a santidade de Deus e a obra redentora de Jesus Cristo. Além disso, o Movimento de Nova Era é extremamente relativista em sua aparência, essencialmente dizendo que as experiências pessoais são mais válidas do que as afirmações de verdades e que ninguém pode conhecer a "verdade absoluta". Os furos lógicos nessa linha de raciocínio são imensos. Embora muitos no Movimento de Nova Era sejam capazes de viver com contradições lógicas, é importante reconhecer a oportunidade de desafiar suas asserções com questões e afirmações provocativas.
Vivemos em um tempo de mudanças e de desafios e é nossa responsabilidade identificar essas transformações culturais e confrontar a sociedade quando as oportunidades aparecerem. A Nova Era busca a autodivinização individual ou coletiva, de modo que devemos nos lembrar daquilo que o livro de Isaías nos diz:
"Porque assim diz o SENHOR que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada: Eu sou o SENHOR e não há outro... Porventura não sou eu, o SENHOR? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro." [Isaías 45:18,21b-22].
Notas Finais
1. Marilyn Ferguson, The Aquarian Conspiracy: Personal and Social Transformation in the 1980s (A Conspiração Aquariana, J. P. Tarcher, 1980), pág. 37. Nota: O termo "Cultura Emergente" é um subtítulo usando por Ferguson para fornecer uma base contextual para as mudanças que ela via acontecendo.
2. Ibidem, pág. 23.
3. Roger Oakland, Faith Undone (Lighthouse Trails, 2007), pág. 93.
4. Existem diversas análises críticas sobre este assunto de mistura da igreja com a Nova Era. Para o Yôga e o Cristianismo, veja o livro de Dave Hunt, A Yoga e os Cristãos (Editora Actual). Outros livros incluem Samantha Smith, Trojan Horse (Huntington House Publishers, 1993) e Dave Hunt, Occult Invasion: The Subtle Seduction of the World and Church (Harvest House, 1998).
5. Lucile W. Green [uma federalista com inclinações de Nova Era muito fortes], Journey to a Governed World: Thru 50 Years in the Peace Movement (The Uniquest Foundation, 1991), pág. 12.
6. Este texto foi extraído do livro de Barbara Marx Hubbard intitulado Manual for Co-Creators (New Visions, 1980), págs 55-61, e reimpresso em The New World Religion, de Gary Kah (Hope International Publishing, 1998), págs. 117-118. Outros na Nova Era, como John Randolph Price, fizeram afirmações similares.
7. Barbara Marx Hubbard, Conscious Evolution (New World Library, 1998), pág. 171.
8. Ibidem, pág. 165.
9. Ibidem, pág. 169-170.
10. Ferguson, The Aquarian Conspiracy (A Conspiração Aquariana), pág. 24.