O perigo do “pragmatimo teológico” nas organizações eclesiásticas
Artigo do Escritor Ézio Luiz Pereira publicado em 14/01/2013.
“1. Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. 2. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade”. (II Pedro 2:1-2)
Em momentos de crise teológica e relativização da ética cristã, a atual queda da credibilidade eclesiástica e ministerial tende a se espalhar como máculas a tentar fragilizar a igreja contemporânea. Um dos fatores que contribui para esse cenário crítico é o ingresso sutil e gradativo do “pragmatismo teológico” dentro das organizações eclesiásticas, corroendo a mentalidade dos incautos. Este texto, portanto, vem como um alerta para o cristão que porfia por servir a Deus dentro do modelo bíblico legítimo, sem o “fermento dos fariseus”. Trata-se do retorno ao lema reformista: “Sola Scriptura“, como um “marco antigo” que não deve ser removido (cf. Provérbios 22:28).
A par do conceito do “pragmatismo”, no campo da filosofia, o olhar investigativo aqui se volta para o campo da teologia e de lá são colhidos alguns subsídios como tempero na compreensão do conhecimento escriturístico. Na Teologia Contemporânea, o “pragmatismo” – similar ao “utilitarismo” – segundo o qual a utilidade, o resultado, a funcionalidade, a experiência prática, são os melhores indicadores da verdade teológica, permeia as organizações eclesiásticas, que, sem se darem conta, estão, na cotidianidade, se afastando do modelo bíblico essencial e genuíno, em nome de resultados práticos e “experienciais”. Nesse sentido, é perigoso o ditado popular: “não se meche em time que está ganhando” (“ganhando”? Do ponto de vista de quem?).
Que o modelo bíblico deve prevalecer, em detrimento das “experiências práticas convenientes” (muitas das quais pouco ortodoxas, objetivando atrair membros), não há dúvida. E essa aglutinação do “empirismo” (o que vem da “experiência”) com o pragmatismo, mascara, sutilmente, a verdade bíblica. Assim é que, se a “doutrina” foi produto de “experiências úteis” reiteradas, está funcionando e foi bem assimilada pelo grupo, vale como “verdade”, ainda que não esteja inserida no modelo bíblico? Isso é altamente perigoso.
Mantém-se, a qualquer preço, o que funciona e o que foi “experienciado” pelo grupo, não importando se fere os parâmetros bíblicos sagrados estabelecidos pelo Senhor Deus desde tempos imemoriais. Nem sempre o que é útil, prático e funcional, fruto de “experiências pessoais”, é verdade, dentro dos preceitos bíblicos e do ponto de vista doutrinário. Afinal, experiências não possuem o condão de construírem doutrinas bíblicas, daí o equívoco que ocorre amiúde, na adoção da “onda pragmática e empirista”. Dizem: o que importa é a “experiência prática pessoal”. Não! Ao revés. O que importa é a verdade escriturística sagrada, revestida de canonicidade divina.
Nessa linha de raciocínio, é importante salientar que não se pode medir a verdade bíblica pelas consequências práticas úteis, tais as que produzem resultados aparentemente espirituais. Então, a linha de indagações necessárias, é: a doutrina “x”, adotada pelo grupo que se diz “Igreja de Cristo”, encontra respaldo indubitável nas Sagradas Escrituras? A doutrina” “x” foi recomendada por Cristo, adotada pela igreja primitiva em Atos, ou nas Cartas Apostólicas? Está inserida no modelo bíblico neotestamentário ou é apenas fruto de “experiências pessoais práticas”? Se a resposta for negativa para o modelo bíblico, ainda que benéfica ao grupo, constitui heresia e deve ser extirpada.
Com efeito, há “doutrinas” teológicas duvidosas que são frutos de interpretação distorcida e isolada das Escrituras Sagradas, frutos de “ginástica intelectual de contorcionista esperto”. São heresias que são percebidas pela argumentação forçada e duvidosa, sem conexidade com o contexto bíblico. Essa prática humaniza a fé, cuja essência é divina e relativiza a verdade bíblica absoluta, num subjetivismo persuasivo enganoso, colidindo com as Sagradas Escrituras, vale dizer, em conflito com a sã Doutrina. O que se prega, aqui e agora – diga-se uma vez mais – é o retorno a um dos lemas reformistas: “Sola Scriptura“.
A propósito, Nadabe e Abiú, no início, viram a glória de Deus (Êxodo 24:1), a Shekiná (Shekhinah ou Shekiná [em hebraico: שכינה, "habitação"] É a grafia em português de uma palavra gramaticalmente feminina em hebraico e é utilizada para designar a habitação ou presença de Deus, isto é “a divina presença” (ou Glória de Deus) – cf. Wikipédia), conheceram o verdadeiro fogo divino, contudo introduziram “fogo estranho” no altar, pois era – segundo eles – um “meio prático”, uma “experiência” para chegar aos “fins” colimados (a Glória de Deus). Entrementes, com esse “pragmatismo” foram alvos do juízo de Deus. Saul, o segundo rei de Israel, também teve uma “experiência prática” com a “voz de Samuel depois de morto” e foi alvo do juízo de Deus. Vale a experiência? A resposta é intuitiva!
Alicerçado no binômio: “funciona/não-funciona” ou no “o fim justifica os meios”, o “pragmatismo teológico”, tem colorido “imediatista” e se apresenta como atrativo para encher os “templos”, com a adoção do critério quantitativo, validando “meios” antiescriturísticos”, verdadeiras heresias, mecanismos emocionais eufóricos e efêmeros, ou “modernismos mundanos”, em detrimento da verdadeira santificação, porfiando por validar uma “liturgia” rotulada de “culto a Deus” (culto? a Deus?), em disfarçados misticismos, com aparência de espiritual. Essa perspectiva “modernista” abre porta para o “liberalismo teológico” desenfreado, tendente a descolorir o lema da Reforma: “Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide et Solus Christus” e a integridade do Evangelho do Senhor Jesus.
Nessa linha de raciocínio, dir-se-ia, equivocadamente: se Balaão ouviu a mensagem divina (Números 22:28) por meio de uma “jumenta”, poderia, um grupo, num “achismo revelacional”, utilizar dessa “experiência pessoal e prática” do profeta veterotestamentário, para adotar um meio de “consulta”, através do qual Deus poderá falar ao ser humano (pela “jumenta” ou outro meio físico e material) embora não seja – nem de longe – preceito bíblico doutrinário a ser seguido. Afinal, esse mecanismo não foi doutrinado por Cristo; não foi adotado pela igreja primitiva no livro de Atos e não foi recomendado pelas epístolas neotestamentárias. Então, não faz parte da doutrina cristã a busca mística pela “jumenta”. Vale a “experiência prática pessoal”, útil e imediatista? As Sagradas Escrituras respondem por si. Decerto, o argumento da “experiência pessoal e prática”, em detrimento do modelo bíblico, é falacioso.
Todavia, é hora de concluir este rascunho e o faço certo de que há um longo caminho a se percorrer; há muito a se aprender; há muito a se corrigir. Este pequenino e singelo rabisco não é, nem de longe, um texto exaustivo. Não! Ele constitui apenas um pequenino tijolo na construção de um aprendizado maior para o povo de Deus, que pretende segui-lO em “espírito e em verdade”, dentro do modelo inerrante das Sagradas Escrituras. Deus nos ensine e nos guarde das heresias para a Sua glória e para a nossa paz!.